sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

PIBID Arte Pública UFSM



Três dos cinco membros do Coletivo (Des)Esperar, Tamiris, Andressa e Florence, trabalham no projeto Pibid Arte Pública, no qual estou aderindo como colaborador, e que é coordenado por Marilda Oliveira de Oliveira. Este vídeo, editado pela Tamiris, foi elaborado para apresentação no II Seminário Pibid, UFSM. Consiste num breve panorama dos trabalhos realizados pelos 20 bolsistas do projeto nas Escolas Augusto Ruschi e Coronel Pillar, em Santa Maria, RS. Além de imagens com os trabalhos dos estudantes das escolas, o vídeo apresenta também algumas obras de arte pública usadas como referências para essas aulas, além de comentários de alguns bolsistas acerca de sua participação no projeto.

Aquilo que se bebe em xícara translúcida - Coletivo (Des)Esperar




A intervenção do Coletivo (Des)Esperar no Macondo Circus 2010 se aproxima do conceito de arte relacional, propondo que a interação do público o transforme. Este evento, em edições passadas, priorizava a música, mas neste ano a organização passou a propor uma integração entre as artes, com intervenções, geralmente performáticas, sendo realizadas nos intervalos entre as bandas.


 Construímos a xícara com tubos de pvc, plástico e papel. Seu resultado estético se assemelha a xícaras de cerâmica trabalhadas por Tamiris e às xícaras de papel criadas por Andressa para a feira de artes Desvenda, também trazida ao evento, com a diferença de ser uma xícara translúcida, e essa translucidez é a questão com a qual o trabalho se relaciona. Para o interior da xícara, gotas de papel branco, cujo acabamento em papel colado ressoa entre o trabalho do coletivo e a pesquisa em escultura por mim empreendida. Enviamos a nossos contatos na internet uma chamada com três perguntas, solicitando que fossem repassadas e respondidas até o dia 24 de novembro:


- O que transparece?

- O que necessitamos que transpareça?

- O que não queremos que se beba em xícara opaca?



No dia 25, as respostas foram reunidas e impressas e a xícara foi posicionada num ponto do Macondo Circus. Ficamos algum tempo em torno dela, observando reações e fazendo alguns ajustes. Quando a intervenção foi anunciada, numa primeira aproximação à linguagem artística da performance, despejamos as gotas ao lado da xícara e nos sentamos ao redor, Andressa, Florence e eu proferindo as perguntas e Tamiris lendo as respostas, para que os três primeiros as anotassem nas gotas, que, ao final, foram jogadas na xícara.


No dia 26, um pouco antes do momento em que as atenções deveriam se voltar à intervenção, Tamiris e eu introduzimos três tiras de tecido (tnt) na xícara. Andressa e Florence, vestidas de preto e maquiadas, entraram na xícara e começaram, pacientemente, a pregar as gotas nesses tecidos.
 Nesta ocasião, quebrando o silêncio e juntando-se ao burburinho do público, começamos a fazer as perguntas para elas, que respondiam lendo nas gotas. Ao contrário dos trabalhos de diversos artistas performáticos, não foi proposto um desfecho definido, mas sim um tipo de diluição da intervenção no tempo... 



O momento final, por Tamiris Vaz

No dia 27 de novembro, realizamos a última etapa do trabalho “Aquilo que se bebe em xícara translúcida”, no Macondo Circus. Por volta das 22hs, ao término do show do Proyecto Gomez, com todo o seu agito eletrônico, um silêncio se faz e o público é convidado a prestar atenção em nossa xícara.
Lentamente me desloco do meio do público e me agacho em frente a ela. Logo em seguida Fábio e Andressa repetem os mesmos gestos, vindo cada um de uma direção.
Feito isso, Francieli e Florence chegam até a xícara e, de súbito, erguem-na e despejam o líquido sobre nossas cabeças, deixando-nos presos dentro da mesma, agora virada com a boca para baixo.





Movimento e agitação dentro da xícara, panos para um lado, gotas para o outro, o público aguardando, atento. De repente o líquido começa a escorrer, primeiro aquele que transparece (Andressa), depois o que necessitamos que transpareça (Tamiris) e, por fim, o líquido que não queremos beber em xícara opaca (Fábio). Os líquidos revelam-se capas vestidas pelos integrantes do coletivo, que caminham, correm, giram, param e indagam as pessoas sobre suas transparências. Pelo caminho, inevitavelmente, vão caindo algumas gotas, enquanto outras vão sendo entregues para o público.


Os líquidos se diluem, restam apenas as gotas nas mãos de
muitos e a xícara virada e vazia. O trabalho que iniciara com respostas vindas do público, retornara a ele, em forma de respostas, mas também de questionamento.
Aonde bebemos nossas vidas?
O quanto ocultamos ou deixamos transparecer nossas ações, interesses, vontades?
Quem teme revelar seus líquidos consumidos em xícara opaca?
O que, afinal, representa a xícara? Não deixamos respostas, estas não cabem a nós, pois mesmo a xícara translúcida não é capaz de revelar claramente, sem deformação, toda a verdade do líquido contido dentro dela.
Só quem bebe sabe responder.


Confira o vídeo com uma amostra do que aconteceu:


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